segunda-feira, 14 de outubro de 2013

A sobrevivência da visibilidade de um programa

No Fórum, Amílcar Faria defende a escolha de Marina Silva pelo PSB para se manter na disputa nas eleições de 2014. E pondera a necessidade da mobilização continuar para a Rede Sustentabilidade ser criada


Amilcar Faria*
A política tem a sua fonte na perversidade e não na grandeza do espírito humano (Voltaire)
Que continuemos a nos omitir da política é tudo o que os malfeitores da vida pública mais querem (Bertold Brecht)
Em política não se escolhe a companhia (Nils Kjaer)

Algumas pessoas, notadamente alguns partidários da ideologia e dos sonhos que representa a Rede Sustentabilidade, têm tido dificuldades de enxergar o ato da filiação democrática da ex-senadora Marina Silva ao PSB, para além da ilusória aparência de mero pragmatismo político, no último dia permitido pela atual legislação eleitoral para lançar candidatura ao pleito de 2014.
Alguns, mais fundamentalistas na concepção de construir uma nova política, uma nova maneira de conduzir a política, que deveria carregar nossas aspirações, esquecem-se ou desconhecem que não se constrói uma nova política sem estar dentro da política e não se está dentro da política se não usarmos as atuais regras dessa velha política.
Tanto é assim que o movimento nova política, ou um grupo de pessoas dele oriundo (e não dele dissidente), decidiu criar um partido político, por entender que a melhor mudança possível é a que vem de dentro para fora pela força das ideias cujo tempo já chegou, ao contrário da mudança que vem de fora para dentro pela força das armas cuja paciência já esgotou (a exemplo do movimento que já até se iniciou nas atuais manifestações de rua pelo Brasil afora).
Em um único movimento, a ex-senadora Marina Silva conseguiu manter sua discussão programática para o pleito de 2014, manter a visibilidade do programa que os nós da #rede queremos e precisamos, sem se vender ou corromper a ideologia de uma nova política.
Candidato algum que almejasse apenas seu próprio plano de poder e tivesse 26% de intenções de voto apoiaria a candidatura de outro com apenas 8%, mesmo que fosse para lhe servir de vice, e isso sequer foi cogitado.
A política é quase tão excitante como a guerra e não menos perigosa. Na guerra a pessoa só pode ser morta uma vez, mas na política diversas vezes (Winston Churchill)
O que ela fez foi usar as armas da velha política contra ela mesma:
1- conseguiu manter-se disponível como candidata ao pleito de 2014;
2- conseguiu dar a resposta ao TSE que por aparelhamento do estado se recusou a dirimir deficiências de órgãos seus que invalidaram sem a constitucional obrigatoriedade de motivação expressa cerca de 95mil assinaturas de apoio à rede;
3- conseguiu dar resposta a quem a acusa de não ter posição apenas porque ela se recusa a se enquadrar na falaciosa dicotomia direita/esquerda (mostrou que sua posição é pela sustentabilidade);
4- mas o mais importante, conseguiu manter a visibilidade, a discussão e a possibilidade de aprimoramento de um programa de governo cujas bases estão nos anseios de todos nós que somos os nós da rede sustentabilidade.
Ela conseguiu manter-se no jogo político com uma jogada de total fair play, preocupando a situação, da qual ela própria saiu ao entender que seu objetivo único, desde que galgou o poder, passou a ser a manutenção do status quo; conseguiu desassossegar a oposição que sonhava manter a nefasta polaridade PT/PSDB na alternância do jogo sujo do “poder pelo poder” e dava como certa sua incapacidade de manter sua visibilidade e capital político, intencionando cooptar esse capital pelos meios que fossem necessários; e conseguiu criar uma tsunami no jogo político que já era dado como uma “marolinha” pelos especialistas políticos de parte a parte.
E não foi sem custo que a instabilidade criada por ela, mesmo sendo a jogada política mais bem feita da última década, que superou em muito o abraço “fraterno” de Lula em Maluf, no jardim da própria mansão do execrado corrupto (segundo a ótica PT-Lulista antes de ser situação) por não afrontar valores pessoais ou coletivos como o fez o referido abraço.
Assim, sob qualquer ângulo que se esteja situado para considerar esta questão, chega-se ao mesmo resultado execrável: o governo da imensa maioria das massas populares se faz por uma minoria privilegiada. Essa minoria, porém, dizem os marxistas, compor-se-á de operários. Sim, com certeza, de antigos operários, mas que, tão logo se tornem governantes ou representantes do povo, cessarão de ser operários e pôr-se-ão a observar o mundo proletário de cima do Estado; não mais representarão o povo, mas a si mesmos e suas pretensões de governá-lo. Quem duvida disso não conhece a natureza humana (Michail Bakunin (1841-1876) – revolucionário anarquista russo)
Tão grande foi a instabilidade criada que ameaça a perda de muitos bons quadros da militância da #rede, que se recusa ou não alcança entender ou enxergar a profundidade e a importância de manter a visibilidade sobre o programa que queremos, enquanto continuamos a formação do partido que ainda não conseguimos, por incapacidade do mais alto tribunal eleitoral em reconhecer e redimir o erro de órgãos seus (invalidação de 95 mil assinaturas de apoio sem a constitucionalmente obrigatória motivação dos atos da administração pública, notadamente as que cerceiam direitos).
Mesmo pessoas com razoável entendimento político teimam não enxergar que somos rede, ainda que incubados (filiados) em partidos solidários, como o foram tantas ideologias partidárias (partidos clandestinos) durante o período mais grotesco da nossa história (a ditadura militar) em que se cassou a democracia.
A única diferença é que somos o primeiro, queira Deus sejamos o único, partido arremessado na clandestinidade em pleno regime democrático de direito. E é a mesma falta de democracia que gera tal distorção: antes causada por uma ditadura militar; agora causada pelo aparelhamento dos poderes de estado, seja pela falácia da coalizão no fatiamento do estado em prol de pretendida governabilidade (a cooptar o legislativo), seja por indicações dos advogados do rei para as mais altas cortes (a cooptar o judiciário).
Em política, perseguir um homem não é apenas engrandecê-lo, mas também justificar-lhe o passado. (Honoré de Balzac)
Amílcar Faria é servidor público federal, diretor de Programas de Controle Social do Instituto de Fiscalização e Controle (IFC) e membro do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE)
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