Luiz Lopes/Ibama
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Cobra rara: alto valor no mercado negro
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Chegaram ao Brasil, no dia 12 de junho, sete filhotes de uma jiboia branca da espécie leucística (Boa constrictor constrictor) e, apesar de não possuírem a pigmentação branca do pai, apresentam uma coloração diferenciada e carregam, geneticamente, o gene leucístico. O animal foi contrabandeado para os Estados Unidos em 2009 pelo americano Jeremy Stone, especialista em répteis, que anda pelo mundo reunindo espécies exóticas para comercializar os filhotes.
O leucismo (do grego λευκς, leucos, branco) é a falta de pigmentação em parte do corpo de algum animal, podendo ter fundo genético (hereditário ou não), metabólico ou até de alimentação. O resultado normalmente são regiões corpóreas de coloração branca, em maior ou menor extensão, onde naturalmente deveria ocorrer alguma pigmentação.
Indivíduos irregularmente manchados de branco são também comumente chamados de "arlequim". Ao contrário do albinismo, que é a ausência completa de melanina, o leucismo pode envolver outros tipos de pigmento. Mesmo indivíduos leucísticos completamente brancos podem ser diferenciados de indivíduos albinos: a cor dos olhos no primeiro é normal, enquanto no albino são vermelhos.
RETIRADA ILEGAL
Dois analistas ambientais da Diretoria de Proteção Ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Roberto Cabral e Nadja Süffert, viajaram segunda-feira (08/06) para buscar os animais. Stone retirou a serpente do Brasil ilegalmente, pela fronteira com a Guiana, passando pela cidade de Bonfim, em Roraima. Por ser único no mundo, o animal foi avaliado em mais de R$ 3 milhões (US$ 1 milhão) e seus filhotes foram vendidos aos pares a preços de variavam de R$ 78,5 mil (US$ 25 mil) a R$ 188,4 mil (US$60 mil) para criadores dos Estados Unidos, Canadá, Itália, Japão e Chile.
A serpente, apelidada de "Capitão Nascimento" pelos fiscais do Ibama, numa alusão ao filme "Tropa de Elite", foi encontrada nas matas do Rio de Janeiro e levada para o Jardim Zoológico de Niterói (Zoonit), no Rio, de onde foi retirada por sua diretora à época, Giselda Candiotto, que escondeu a cobra e disse que havia morrido. Mas, na verdade, vendeu a jiboia a Jeremy Stone por R$ 500 mil, conforme mostraram os dois anos de investigações conduzidas pelo fiscal do Ibama Carlos Magno Abreu.
O sucesso das investigações contou, também, com o trabalho da Polícia Federal e do coordenador-geral do Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional, da Secretaria Nacional de Justiça, Salino Antonio Giacomet Junior, responsáveis pelas tratativas com o governo americano para o retorno das serpentes.
ESPÉCIE RARA
Trata-se de uma cobra extremamente rara, única no mundo, portadora de uma mutação genética chamada leucismo, que deixa a pele toda branca e os olhos negros, sendo a primeira jiboia conhecida no planeta a registrar esse padrão. Os filhotes da serpente brasileira foram apreendidos e aguardaram a repatriação para o Brasil no zoológico de Salt Lake City, capital do Estado de Utah.
Por ação do Ministério Público Federal de Roraima e da Polícia Federal, com base na Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Fauna e da Flora Silvestres Ameaçadas de Extinção (Cites, sigla em inglês) e na Lei Lacey Act americana, que pune crimes ambientais, Stone foi condenado a um ano de prisão domiciliar, com uso de tornozeleira eletrônica, e a devolver a jiboia branca e seus filhotes. Mas o traficante disse ao FBI (polícia federal americana) que a “princess diamond”, como ele a chamava, havia morrido e que fora enterrada no quintal.
Ocorre que este fato não foi investigado pelos policiais americanos, o que os fiscais do Ibama consideraram um absurdo. Agora, o governo brasileiro quer que a carcaça do animal, se é que ele morreu mesmo, seja devolvida ao Brasil.
“É um absurdo dizer que o animal morreu, isso não tem cabimento”, disse Carlos Magno Abreu. Ele se diz preocupado com a possibilidade de Jeremy Stone retomar a comercialização de serpentes para fora dos Estados Unidos a partir de agosto, quando acaba a proibição da justiça americana nesse sentido. O fiscal do Ibama insiste: “O governo brasileiro vai pedir que a licença do Stone seja caçada, via Cites, além da repatriação dos outros dez filhotes vendidos a criadores de outros países”, acrescentou.
SAIBA MAIS
O caso da jiboia branca brasileira começou em 2006, em Niterói, quando Giselda Candiotto retirou a cobra do Zoonit às escondidas e iniciou as negociações com Jeremy Stone para vendê-la . No Brasil, o Ministério Público Federal denunciou tanto Stone quanto Giselda e seu marido José Carlos Schirmer por crime contra a fauna brasileira e o meio ambiente por furto, contrabando e fraude processual. Os brasileiros já foram condenados por tráfico internacional de animais silvestres, mas estão em liberdade e com planos de montar aquário de espécies marinhas no Rio de Janeiro.
No Brasil, o americano chegou a ser preso pela Polícia Federal por desacato e falsidade ideológica, já que estava acompanhado de uma mulher com uma falsa barriga de grávida. “Ele veio ao Brasil várias vezes e testou várias rotas de saída para sair com a serpente”, conta o analista do Ibama Roberto Cabral. Stone chegou a negar que estivesse com o animal, mas postou fotos e vídeos na internet, o que facilitou o trabalho de investigação.
Assessoria de Comunicação Social (Ascom/MMA): 2028-1165
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